por Antônio Athanazzio, Bruna Esteves e Érica Fernandes
“Eu sou um apocalíptico que morrerei cedo... Às vezes sinto-me louco e absolutamente feliz dentro de uma infinita solidão.”
(Paris, 1973)
Na última segunda-feira (27)
e também na terça (28), aconteceu na Universidade Jorge Amado, na Paralela, o simpósio 'Glauber em Foco'. A ideia do
projeto foi discutir e trazer a imagem do cineasta Glauber
Rocha para perto do povo. A iniciativa foi da Coordenação de Comunicação Social e do Grupo de Iniciação Científica Modos de Produção Audiovisual na Bahia, coordenado por Ceci Alves.
“As pessoas precisam assistir aos filmes e entender que a estética de Glauber é bem brasileira", declara a professora Ceci Alves, uma das organizadoras do evento.
“As pessoas precisam assistir aos filmes e entender que a estética de Glauber é bem brasileira", declara a professora Ceci Alves, uma das organizadoras do evento.
Ceci Alves - organizadora do 'Glauber em Foco' |
Programação
Mesa 'Quem é Glauber' Carlinhos Marques, Oscar Santana, Ceci Alves e Roque Araújo |
No primeiro dia, foi exibido o
curta-metragem 'O Pátio' (1959), primeiro filme de Glauber, de 11 minutos de duração, seguido do
documentário de Roque Araújo, 'No Tempo de Glauber' (1986). Os convidados que fizeram parte da mesa “Quem é Glauber” foram Oscar
Santana e Roque Araújo, para falarem sobre a vida e a obra do cineasta.
"O caminho do cinema são todos"
Oscar Santana fez um belo discurso em homenagem a Glauber, frisando que "não fala do mito, e sim do amigo que começou a fazer cinema na mesma época".
Várias passagens de sua vida foram relembradas, desde a época de Glauber no Colégio Central (local onde ele estudou e desenvolveu sua criatividade) até sua consolidação como diretor e cineasta. Citações de frases emblemáticas durante sua breve vida enriqueceram e deram mais emoção ao texto, fazendo com que a plateia refletisse sobre a importância do cinema para a cultura brasileira. "Mostrar o homem para o próprio homem. Assim tudo paira no ar como um brilho interrompido".
O encerramento do primeiro dia ficou com o pocket show "Universo Baianês", com a participação do maestro Carlinhos Marques.
"O caminho do cinema são todos"
Oscar Santana fez um belo discurso em homenagem a Glauber, frisando que "não fala do mito, e sim do amigo que começou a fazer cinema na mesma época".
Várias passagens de sua vida foram relembradas, desde a época de Glauber no Colégio Central (local onde ele estudou e desenvolveu sua criatividade) até sua consolidação como diretor e cineasta. Citações de frases emblemáticas durante sua breve vida enriqueceram e deram mais emoção ao texto, fazendo com que a plateia refletisse sobre a importância do cinema para a cultura brasileira. "Mostrar o homem para o próprio homem. Assim tudo paira no ar como um brilho interrompido".
Oscar Santana em discurso na mesa 'Quem é Glauber' |
O encerramento do primeiro dia ficou com o pocket show "Universo Baianês", com a participação do maestro Carlinhos Marques.
Painel produzido pelos alunos da Unijorge |
Já na terça-feira teve a exposição do painel 'O Olhar de Glauber Rocha no Cinema Atual', criado pelos alunos de Iniciação Científica da Unijorge e, também, um segundo painel, criado pelos alunos do grupo de pesquisa da Universidade Federal da Bahia – com orientação da Profª. Drª Marise Berta.
Além disso, foi exibido o filme 'Terra em
Transe' (1967), às 15h, para uma posterior análise da estética e técnica do filme e sua influência na
cinematografia e cultura baiana, brasileira e mundial. Convidado: Adalberto
Meireles. Na noite de terça foi realizado um debate "que constituiu a obra e
a visão de mundo de Glauber e como ele influenciou o mundo". Convidado: Umbelino
Brasil.
Em seus filmes, o diretor
consegue problematizar a ética e a estética do cinema nacional e regional,
colocando em questão principalmente a pobreza, o sertão e os excluídos, sem
tratar do tema com clichês. Até aí é tudo que sabemos, somado ainda ao
temperamento explosivo do diretor. Contudo Glauber escreveu cartas e roteiros que não foram
publicados, era um sujeito brincalhão e tirava onda com todos nos set de
filmagem. “Politicamente Glauber era uma fera. Mas enquanto diretor ele era um
sujeito divertido e muito animado”, relembra Roque Araújo, um senhor elegante e muito
prosaico que chegou contando várias histórias do cineasta, além de apresentar
todo o acervo que ele ainda possui. “Muita
coisa ainda não chegou ao grande público”, comentou. Roque falou do acervo com
mais de 1.185 peças cadastradas que se encontra na Biblioteca Central que fica
no bairro dos Barris.
Estudante do curso de audiovisual, Evelyn Brito |
Para Enio Sena, que está no 1º período de produção visual, a figura do Glauber não é tão conhecida assim. Apesar de já ter assistido a “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, um dos filmes do cineasta, ele conta que precisa de aprofundamento. “Não sei muita coisa da vida dele, vou aproveitar essa oportunidade para pesquisar outras obras do Glauber”, declara.
Plateia durante evento 'Glauber em Foco' |
História
Cena do filme 'Deus e o Diabo na Terra do Sol' |
Foi à falência, mas não em vão. Glauber descansa como ícone nacional e como representante máximo de um movimento fundamental na identidade da cultura brasileira: o Cinema Novo. Com influências do neorrealismo italiano e da Nouvelle Vague francesa, o manifesto foi contra às produções inflacionadas e escancarou um país subdesenvolvido e repleto de mazelas sociais, inaugurando uma busca por um olhar social (cinematográfico) que perdura até hoje.
Bate-papo com Roque Araújo
Ele chegou de repente, falante e cheio de sorrisos, disponível para ser entrevistado antes de sua participação na mesa 'Quem é Glauber'. Falar sobre o amigo é uma grande honra para este homem que trabalhou e conviveu com o grande nome do cinema baiano. Roque Araújo hoje integra a equipe da DIMAS (Diretoria de Audiovisual da Fundação Cultural do Estado da Bahia), que contribui para o fortalecimento da produção audiovisual no estado. Com mais de 50 anos de cinema no currículo, Roque concedeu a entrevista abaixo em clima alegre e saudosista.
De eletricista passei a assistente
de câmera e prossegui como assistente de direção e diretor de fotografia.
Trabalhei em todos os filmes de Glauber Rocha, menos no curta O Pátio. Com
as sobras de A Idade da Terra (1980), que Glauber deixou pra mim, fiz
No Tempo de Glauber (1986), uma espécie de making of e painel
grandiloquente sobre o último filme do diretor de Deus e o Diabo na
Terra do Sol.
Como foi trabalhar
com Glauber Rocha?
Normal, um senhor simples. Glauber era um sujeito brincalhão. Fazia piadas, brincava com toda
turma da filmagem.
E politicamente como
ele era?
Ah, politicamente ele era uma fera. Ele tinha orgulho em
mostrar aquele cinema com a cara do povo. Mostrava de um jeito revolucionário.
Em 1955, o diretor Nelson Pereira dos Santos exibiu o
primeiro filme responsável pela inauguração do Cinema Novo. “Rio 40 graus”
oferecia uma narrativa simples, preocupada em ambientar sua narrativa com
personagens e cenários que pudessem fazer um panorama da cidade que, na época,
era a capital do país. Então tudo começa aí e depois vem Glauber e tantos
outros.
Qual é a dica que o senhor dá pra essa moçada que vem produzindo filmes com novas tecnologias e um
novo jeito de fazer cinema?
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