sexta-feira, 28 de junho de 2013

Crônica ao volante

Por Leandro Aragão
Fotos de Leandro Aragão

Depois da terceira soneca ele levantou da cama. O relógio marcava seis e meia da manhã. Saiu de casa cinqüenta minutos depois e enquanto ligava o carro pensava no trajeto que faria até a faculdade, cogitando os trechos onde teria engarrafamento. Optou pela Orla, ao invés da ACM – Paralela. Preferia enfrentar o engarrafamento com a brisa do mar, vendo as ondas e as mulheres se exercitando.

Ao abrir o sinal, um carro o cortou ao fazer a curva para entrar na avenida da Orla. “As pessoas não sabem fazer curva, esquecem que tem outro carro do lado”, pensou. Ligou o som do carro e colocou sua reza diária que lhe traz proteção e sorte, “Meu glorioso São Cristóvão” de Jorge Ben. Abriu as janelas do veículo, respirou fundo sentindo o cheiro da maresia, mas hoje não viu o sol. Ao invés disso, caía uma chuva fina. Na subida do Jardim do Alah, apenas uma das três faixas estava livre para quem seguia sentido Itapuã. O motivo? Uma obra? Não. Mas um buraco seria compreensível, já que as ruas de Salvador são de sonrisal e se derretem na primeira chuva que cai. Mas essa também não era a causa. O problema é que os motoristas de Salvador só olham para o próprio umbigo. Para fazer o retorno que dá acesso ao Costa Azul, as pessoas criam mais uma faixa e como tem sinaleira ficam paradas no meio da pista atrapalhando a vida de quem quer seguir reto. Quem está na pista do meio tem que desviar para a terceira faixa e os que vêm nessa faixa tem que reduzir para deixar os outros passarem e assim forma o bolo.

A reza termina. Para que o trânsito não acabe com o seu bom humor precocemente, ele coloca “When the music’s over”, do The Doors e inicia sua aula de teclado. Depois de aprender a tocar sua guitarra e seu baixo imaginários, está treinando teclado. Tudo isso é para desviar sua atenção para não se estressar com os outros motoristas que pensam que furar fila só é falta de educação no cinema ou no banco. Mas não no trânsito. As pessoas cortam por entradas de estacionamentos públicos para passar na frente de todo mundo. Para não correr o risco de brigar no trânsito, ele muda para a faixa da esquerda. Na altura do antigo clube do Bahia, o engarrafamento volta a se formar, pois o que eram três faixas se tornam apenas duas, por pura visão de futuro de quem projetou a avenida. A velocidade não passa dos 30 km até o retorno para quem vai pegar a avenida Pinto de Aguiar. Aliás, ele mora na Pituba, mas para pegar a Paralela, ele não comete a insanidade de passar pelo Imbuí, muito menos pela rua dos motéis, a avenida Pinto de Aguiar. Prefere ir até o Bairro da Paz para entrar na avenida Luiz Viana.





A música de 16 minutos termina e já cansado de treinar no seu teclado, então ele coloca “Who scared you?”, também de Jim Morrison e Cia. A aventura no trânsito já dura quase meia hora, mas o pior está por vir. Após entrar na Paralela e pegar o retorno para chegar na faculdade, ele se depara com o mar de carros com os faróis vermelhos acesos.

Depois de quase 1 hora de trânsito, finalmente ele chega ao seu destino, cujo trajeto com a pista livre seria feito em no máximo 25 minutos. Já dentro do prédio ele se depara com outro engarrafamento, mas dessa vez o sinal vermelho é o elevador que ainda não chegou. Quando a porta abre os motoristas, perdão, as pessoas não respeitam a fila e quem estava do lado da entrada, mal esperam as que já estão do elevador sair e já vão metendo a cara. “Na verdade a falta de educação não está apenas no trânsito e sim nas próprias pessoas”, concluiu.

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