Por Leandro Aragão
Fotos de Leandro Aragão
Depois da terceira soneca ele
levantou da cama. O relógio marcava seis e meia da manhã. Saiu de casa
cinqüenta minutos depois e enquanto ligava o carro pensava no trajeto que faria
até a faculdade, cogitando os trechos onde teria engarrafamento. Optou pela
Orla, ao invés da ACM – Paralela. Preferia enfrentar o engarrafamento com a
brisa do mar, vendo as ondas e as mulheres se exercitando.
Ao abrir o sinal, um carro o
cortou ao fazer a curva para entrar na avenida da Orla. “As pessoas não sabem
fazer curva, esquecem que tem outro carro do lado”, pensou. Ligou o som do
carro e colocou sua reza diária que lhe traz proteção e sorte, “Meu glorioso
São Cristóvão” de Jorge Ben. Abriu as janelas do veículo, respirou fundo
sentindo o cheiro da maresia, mas hoje não viu o sol. Ao invés disso, caía uma
chuva fina. Na subida do Jardim do Alah, apenas uma das três faixas estava
livre para quem seguia sentido Itapuã. O motivo? Uma obra? Não. Mas um buraco
seria compreensível, já que as ruas de Salvador são de sonrisal e se derretem na
primeira chuva que cai. Mas essa também não era a causa. O problema é que os
motoristas de Salvador só olham para o próprio umbigo. Para fazer o retorno que
dá acesso ao Costa Azul, as pessoas criam mais uma faixa e como tem sinaleira
ficam paradas no meio da pista atrapalhando a vida de quem quer seguir reto.
Quem está na pista do meio tem que desviar para a terceira faixa e os que vêm
nessa faixa tem que reduzir para deixar os outros passarem e assim forma o
bolo.
A reza termina. Para que o
trânsito não acabe com o seu bom humor precocemente, ele coloca “When the
music’s over”, do The Doors e inicia sua aula de teclado. Depois de aprender a
tocar sua guitarra e seu baixo imaginários, está treinando teclado. Tudo isso é
para desviar sua atenção para não se estressar com os outros motoristas que
pensam que furar fila só é falta de educação no cinema ou no banco. Mas não no
trânsito. As pessoas cortam por entradas de estacionamentos públicos para
passar na frente de todo mundo. Para não correr o risco de brigar no trânsito,
ele muda para a faixa da esquerda. Na altura do antigo clube do Bahia, o
engarrafamento volta a se formar, pois o que eram três faixas se tornam apenas
duas, por pura visão de futuro de quem projetou a avenida. A velocidade não
passa dos 30 km
até o retorno para quem vai pegar a avenida Pinto de Aguiar. Aliás, ele mora na
Pituba, mas para pegar a Paralela, ele não comete a insanidade de passar pelo
Imbuí, muito menos pela rua dos motéis, a avenida Pinto de Aguiar. Prefere ir
até o Bairro da Paz para entrar na avenida Luiz Viana.
A música de 16 minutos termina e
já cansado de treinar no seu teclado, então ele coloca “Who scared you?”,
também de Jim Morrison e Cia. A aventura no trânsito já dura quase meia hora,
mas o pior está por vir. Após entrar na Paralela e pegar o retorno para chegar
na faculdade, ele se depara com o mar de carros com os faróis vermelhos acesos.
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