Por Liliane Sena e Maria Clara Lauton
O toque do sinal do
colégio é o alerta de que todos devem se sentar e esperar o professor.
Rigorosamente enfileirados, eles esperam apreensivos por mais um dia de
tabuada. O medo era de errar e receber algum castigo do professor.
Esse cenário retratado
não lembra muito a sala de aula dos dias de hoje, mas essa foi a realidade
vivida por
Marisia Bahia, 77 anos. Ela é professora aposentada e conta que
era comum que os alunos recebessem castigos dos professores. “Na hora da
tabuada todos os alunos ficavam em pé e a professora fazia as perguntas, quando
respondíamos errado tomávamos palmatória. Se você não soubesse a lição a
professora colocava nas costas da pessoa a palavra burro, a gente ajoelhava no
milho também”, relata a aposentada. Marisia conta que na sua época como
professora ainda existiam alguns castigos como ‘reguada’, ficar no canto da
sala e não ir para o recreio. A professora salienta também que essa prática era
bem vista pelos pais que entendiam como necessárias essas atitudes para a
educação dos filhos.
A professora aposentada Marisia Bahia |
Para Maria Conceição,
dona de casa de 57 anos, os castigos eram frequentes. Por ser ‘danada’ na
infância, ela conta que não aceitava bem essa relação de ter que ficar sempre
submissa aos professores. “Eu muitas vezes os desafiava por não ter medo dos
castigos como os meus colegas tinham. Isso me rendeu muitas ‘reguadas’ e horas
virada para parede sem poder me mexer”, confessa Maria.
O Passado e O Medo
Já para a professora de inglês Glaucia Góes de 47 anos, o receio de não conseguir cumprir as obrigações e o medo de desagradar os pais eram motivos para respeitar o professor em sala de aula. “Sempre agi com muito respeito perante a figura do professor, tinha medo de não corresponder às expectativas”, afirma Glaucia
O Passado e O Medo
Já para a professora de inglês Glaucia Góes de 47 anos, o receio de não conseguir cumprir as obrigações e o medo de desagradar os pais eram motivos para respeitar o professor em sala de aula. “Sempre agi com muito respeito perante a figura do professor, tinha medo de não corresponder às expectativas”, afirma Glaucia
A relação em sala de
aula entre professores e alunos sofreu muitas mudanças ao longo dos anos, e
hoje, é tida como um dos maiores desafios a serem enfrentados pelos
profissionais de educação. Quando comparados passado e presente, o respeito
aparece como uma questão polêmica e que sofreu muitas alterações.
Os métodos que eram adotados
no passado para que o respeito fosse conquistado tinha uma forte relação
com o medo. Na visão do professor de matemática, Antonio Vaccarezza,43
anos, castigos físicos não são solução para respeito nem aprendizagem.
“Acredito que essa postura dos antigos professores era incentivada pela própria
família que, como toda sociedade da época, estava menos desenvolvida nos
conceitos de ensino-aprendizagem. Porém esse fato exemplifica o alto grau de
entrosamento entre professor e família, projetando no professor e na escola uma
extensão do próprio lar”, relata Antonio.
Um dos modelos de palmatória utilizada por professores antigamente |
O Presente
e A Liberdade
A sala de aula de hoje
é marcada por uma certa liberdade acompanhada por conflitos constantes e
exemplos de falta de respeito com o próximo. Pouco se assemelha com a relação
do passado de temor e respeito. Para o professor de química Remens Sorvenal, 48 anos, essa mudança começou com a censura sendo gradativamente liberada, que
gerou muitas mudanças sociais e culturais. “Era um momento de repensar ações,
atitudes. Sai o país da ditadura e entra o período da democracia, todos esses
aspectos refletem na relação”, destaca Remens.
O professor Antonio
Vaccarezza acredita que a falta de parceria dos pais com os professores foi e é
crucial para essa mudança de comportamento. “Deixamos de ter o apoio dos pais,
da família que orientavam esses alunos sobre a importância do conhecimento e da
educação aos seus filhos”, acrescenta. Para a estudante Anaíldes Alvez, 27
anos, essa falta de apoio é o reflexo de uma sociedade cada vez mais preocupada
com outras questões. “Antes a família era mais presente na vida dos seus filhos
e eles então tinham respeito tanto com os pais , professores e a sociedade em
geral. Não
se pode mais contar tanto com os pais”, frisa.
Vânia Pereira, 46
anos e professora a mais de 20, confessa que é apaixonada pela profissão, mas
ressalta
a dificuldade de lidar com os alunos de hoje em dia. “Sou professora
porque gosto e ainda acredito na educação, mas sabemos que o mundo que estamos
vivendo a violência é que rege, os nossos valores estão sendo trocados.
Infelizmente os pais não dão limites aos filhos, então é difícil respeitar uma
pessoa estranha - no caso o professor – na sala de aula”, destaca. A professora
também acrescenta a importância de ainda ter famílias que acompanhem o
desenvolvimento do filho no ambiente da escola.“ Percebo que os meus melhores
alunos são aqueles os quais a família está presente e acompanhando a vida escolar”,
afirma Vânia.
A professora Vânia em uma das escolas em que trabalha |
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