Inclusão: direito e não caridade
Por Daniela Cunha
Uma das principais preocupações dos pais quando tem um
filho é sobre o futuro deles e como educá-los da melhor forma possível. Se esse
assunto já atormenta naturalmente, imagine aos pais de crianças nascidas em
Salvador que tem alguma deficiência. Preconceito, intolerância e
direitos negados, essa é a realidade por qual passam essas crianças e suas
famílias.
Buscando mudar essa realidade alguns grupos são
criados para lutar por essa causa. Como é o caso do “Educação Inclusiva:
Queremos Podemos!”, grupo formado a três meses a partir da iniciativa da mãe de um autista.
No dia 24 de maio aconteceu uma sessão na Assembléia
Legislativa da Bahia - ALBA, proposta pela deputada Neusa Cadore. Essa foi a
primeira ação do grupo que pretendia nesse momento buscar alternativas para
inclusão escolar de qualidade. Da reunião participaram o Conselho Estadual e Municipal
de ensino além de representantes de colégios das redes públicas e particulares.
Durante a sessão foram debatidas algumas reivindicações do grupo, como a que os centros de ensino de Salvador precisam preparar melhor seus professores para atender estudantes com deficiência, além da necessidade de que existam mais cursos em universidades para preparar esses profissionais. “Desejamos conscientizar as pessoas, mostrar a eles que estamos lutando por um direito. Não é caridade, é uma obrigação. Pretendemos sensibilizar o ser humano gestor e educador”, explica Edilene Medrado, educadora e integrante do grupo.
Segundo o doutor em inclusão e educador, Anderson
Spavier, movimentos como esses formados por pais são de extrema importância, já
que a família é a mola propulsora para ativar os processos de inclusão. “Se não há um trabalho de conscientização da família
para que ela supere o que a literatura científica chama de "luto
psicológico", esse processo inclusivo não é ativado”, afirma.
No Brasil, pessoas com deficiência de qualquer idade
têm o direito de receber um auxílio de um salário mensal pelo Benefício de Prestação Continuada da Assistência Social – BPC.
Do total de 409.202 beneficiários com até 18 anos, em 2010, 216.890 (53%)
estavam na escola. O número significa um progresso, pois em 2008, o percentual
era de apenas 29%.
Apesar de todas as dificuldades enfrentadas por esses
pais, algumas iniciativas já estão sendo tomadas por instituições de ensino.
Como é o caso do Colégio Estadual Victor Civita, localizado no Dique do Tororó.
Desde 2010 o colégio passou por algumas adaptações para assistir melhor a
alunos surdos. A equipe docente da instituição teve aulas de Língua Brasileira
de Sinais - LIBRAS e recebeu alguns alunos da Associação de Pais e Amigos de
Deficientes Auditivos do Estado da Bahia – APADA.
Nessa época, algumas pessoas da associação foram ao
colégio para conversar com os funcionários e esclarecer um pouco de como é a
realidade dos deficientes auditivos e de como eles enxergam o mundo. A direção
da instituição também convocou um professor surdo para dar aulas de libras no
próprio colégio, aos docentes e funcionários que se interessaram.
Segundo a coordenadora pedagógica do Victor Civita,
Ednalva Cunha, a inclusão no colégio vem se desenvolvendo a cada dia e sempre
foi bem recebida por funcionários, professores, alunos e pais. “A princípio os
surdos e seus pais temiam estar em uma escola regular. Mas apesar de despertar
a curiosidade, eles foram bem recebidos por seus colegas e a adaptação
aconteceu naturalmente,” afirma.
“Se a escola
é o espaço da convivência coletiva, deve ser o espaço de todos, da diversidade,
entendida como fator primordial da condição humana, que deve ser respeitada. A
escola deve estar aberta para a disseminação de um conhecimento libertador, não
pode e não deve ser entendida como um lugar onde devem ser perpetuados e
petrificados conceitos cheios de equívocos, preconceitos, estereótipos e
estigmas”, conclui Anderson.
Inclusão no Brasil
A inclusão de pessoas com deficiência em vários
setores da sociedade brasileira é uma realidade. Segundo o Censo do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE 2000, o número de pessoas com
deficiência no Brasil era de cerca 24 milhões de pessoas ou 14,5% da população
brasileira. Já em 2010, o censo constatou um crescimento do número de pessoa
com deficiência, cerca 45,6 milhões de pessoas.
No Brasil, 29 milhões de crianças até os 9 anos de
idade declaram ter algum tipo de deficiência, segundo o IBGE.
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