quinta-feira, 27 de junho de 2013

Falta de educação nos ônibus

Por: Marília Princy e Lorena Dias

Os saltos tocam os degraus do ônibus e ela já entra fazendo barulho. Brinca com o motorista, com o cobrador e depois, dizendo ser professora, resolve dar uma aula aos passageiros. “Classe, peguem o papel e a caneta para anotar a lição. Pegaram? Aqueles lugares ali são reservados para grávidas, idosos e deficientes. Estão anotando?”, diz. Em seguida, explica que tratam-se de lugares preferenciais e conta histórias de pessoas que esquecem desse pequeno detalhe, tirando gargalhadas dos passageiros. O assunto é retratado com humor, mas o tema é sério.


Ela, a Professora Luzinete, na verdade é ele, o ator baiano Genny Santos que sai às ruas vestido de mulher para conscientizar as pessoas que usam o transporte coletivo. “Fui rodoviário durante 15 anos. Deixei a profissão de motorista pra atuar e é justamente por isso que tive essa facilidade de criar o texto que apresento hoje nos ônibus”, conta Genny. E a falta de educação é um dos principais temas abordados em sua “peça itinerante”.

Além do desrespeito aos lugares preferenciais, a Professora Luzinete também fala dos passageiros que não usam fone de ouvido, das pessoas que demoram a pagar o cobrador e também daquelas que ocupam quase todo o espaço dos bancos. A estudante Karime Lisboa, 19, pega ônibus todos os dias e conta que presencia muitos dos exemplos citados pela Professora Luzinete. Para ela, ações como a do ator Genny Santos ajudam na conscientização dos passageiros. “Ele está fazendo uma coisa para que as pessoas de alguma forma prestem atenção. Sempre fica alguma coisa, mesmo que você não perceba na hora, aquilo fica na cabeça”, afirma a estudante.

Mas não são apenas os passageiros que precisam se conscientizar. Motoristas e cobradores também devem estar atentos sobre a forma como se relacionam nos transportes coletivos. “Tem muitos que estão estressados e quer sair da empresa e joga em cima dos passageiros. E não tem nada a ver, porque se você tiver algum problema tem que conversar com a empresa”, conta o cobrador Raimundo dos Santos, que trabalha há 13 anos como rodoviário. Para ele, o estresse do dia-a-dia não é motivo para tratar mal as outras pessoas. “Ninguém tem nada a ver com o problema dos outros. Se tiver algum problema, é melhor deixar em casa”.

Apesar de não ser justificativa pra o mal comportamento, para a psicóloga Maria José Carballal, o estresse diário influencia no comportamento das pessoas dentro dos transportes coletivos.  “Se no ônibus a pessoa tivesse a certeza de que iria caber todo mundo ou que o próximo viria rapidinho, não precisava viver com tanta angústia na batalha pelo deslocamento”, afirma a psicóloga, defendendo que uma melhora na qualidade do serviço de transportes afetaria positivamente no comportamento dos passageiros.


Enquanto o governo não toma as providências que melhorariam o transporte, pessoas como Genny Santos continuam fazendo sua parte, no sentido de melhorar a situação daqueles que dependem do transporte coletivo. “Não depende só do governo, depende de cada um de nós”, afirma o ator. E é por isso que ele continua indo nos ônibus, lembrando as pessoas de atitudes simples, que vão se perdendo no estresse do dia-a-dia. “Eu vejo uma carência de incentivo da mídia em estar divulgando e fazendo campanhas educativas, porque se isso for feito com mais frequência, acho que as pessoas acordam”.

Assista um pouco da "aula" da Professora Luzinete:

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