Havia
uma pedra no meio do caminho. Já dizia o grande poeta Carlos Drummond de Andrade.
No caso de Salvador as pedras ganham outro sentido: no meio do caminho havia
carros, lixos, buracos e feirantes irregulares tornando restrito o espaço do
pedestre. E isso nos tira o encanto e a
poesia de andar pela cidade...
Basta
um simples passeio pela cidade para flagrar irregularidades e falta de respeito com os pedestres em
Salvador. Praticamente, em quase todos os
pontos da cidade percebemos uma grande quantidade de carros tomando não
só as ruas, o que dificulta o trânsito, como também as calçadas, colocando em
risco a vida de muitos pedestres. Como se não bastasse vendedores ambulantes e
proprietários de bares também contribuem para estas questões que atrapalham o
direito de ir e vir do soteropolitano. Pontos de ônibus em lugares não estratégicos e
muitas obras sendo realizadas também entram na lista que criam o desconforto de andar pela cidade.
As vagas dos estabelecimentos e instituições são
insuficientes para suprir a demanda de automóveis. Salvador dispõe de um pouco
mais de 7.508 vagas de estacionamento, incluindo a Zona Azul, os
estabelecimentos particulares e os locais de posse da Superintendência de
Trânsito e Tráfego de Salvador (Transalvador). Estima-se que a cidade possua aproximadamente
uma vaga para cada 94 veículos
A falta
de regularização da prefeitura com esse crescimento exacerbado de veículos acaba
prejudicando as pessoas que andam pela cidade. “Salvador não é uma cidade para
se caminhar, enfrentamos vários problemas como buracos nas calçadas, lixos e
muitos carros que tomam espaços que são nossos”. Relata o estudante de
fisioterapia Lucas Gualberto (21) que gosta de caminhar pela cidade em dias de folgas.
“Sem contar no medo de ser assaltado”. Conclui.
Bar do Chico na Barra |
As principais causas para esses atos são a falta de estacionamentos por partes dos donos de estabelecimentos (vide o que ocorre no bairro do Rio Vermelho nos finais de semana e nas imediações da av São Rafael em dia de jogos no estádio do Pituaçu ), condomínios sem vagas e comércio irregular. Em alguns pontos da cidade notamos que há irregularidades por parte dos comerciantes. Como no caso de lojas especializadas em serviços de som e películas para carros, ali na Vasco da Gama, que utilizam o passeio para praticar os reparos nos automóveis. Outro ponto onde a calçada é tomada é no bar do Chico, ali na Barra na rua Recife 86, cadeiras são colocadas nas ruas e nas calçadas induzindo os pedestres a andarem pela rua, impossibilitando de usarem a calçada.
Os
pedestres que trafegam pela Avenida Paulo Sexto região nobre em Salvador
reclamam que precisam dividir o espaço na rua com os carros pela
impossibilidade de trafegar tranquilamente pela calçada. Para conseguir seguir
o trajeto, muitos se arriscam caminhando pela via onde circulam regularmente ônibus,
carros e motos.
Pedestres utilizando a rua por falta de passagem |
Dona
Maria (53) foi uma das pedestres que presenciei cortando caminho pela via dos
veículos e ao perguntá-la sobre essa
dificuldade ela me relatou a dificuldade: “ se você reparar aqui nessa avenida
só tem carro de gente "graúda", gente rica, você acha que eles estão preocupados
com nós, pobres que usamos a rua.” Dona Maria se referia a dezenas de carros de luxos que ficam estacionados na
calçada da avenida. E ainda nos conta que certa ocasião quase foi atropelada
por um ônibus quando tentou passar. “Quem está de carro se sente ainda mais forte e poderoso que nós que andamos a pé. Pra
Deus somos todos iguais”. Finaliza.
Na
tarde de ontem (13) percorremos trechos das cidades para localizarmos irregularidades dos motoristas ao estacionar. No trecho da
Av, Paulo Sexto, próximo ao colégio militar, encontramos 14 carros estacionados
sobre as calçadas obstruindo completamente a passagem do pedestre. Sem contar
alguns outros que estacionaram sobre a calçada, mas permaneceram dentro do
veículo, aguardando, enquanto seus passageiros estariam dentro das lojas.
Perguntei ao senhor Moacir (37) se isso era certo e ele respondeu: “sei que
estou errado, mas a loja tinha que possibilitar estacionamento para os seus
clientes, não concorda? Procuramos a proprietária da loja e ela não quis se
pronunciar sobre o assunto. Falta regularização por parte da Transalvador que orienta que o veículo que estiver em
calçadas ou faixa de pedestres pratica uma multa grave e o proprietário do
veículo recebe uma multa no valor de R$127,69.
Av. Paulo Sexto Pituba/Foto Arquivo Pessoal |
Outro
ponto em questão são os vendedores ambulantes que tomam boa parte da passarela
que permite o acesso da rodoviária ao
shopping Iguatemi. Em horários de grande fluxo fica quase impossível trafegar
por aquele espaço. “Fico com receio de ser assaltada, aqui, como já aconteceu
com uma colega”. Relata Rosicleide (24)
que trabalha numa das lojas do shopping. A passarela fica completamente
obstruída com bolsas, sapatos e ursos de pelúcias estendidos no chão e os
vendedores tomam conta da passagem que seria pra ser usada pelo pedestre. Em
alguns casos, observamos os fiscais da prefeitura, mas eles não quiseram se
pronunciar. “Não podemos falar a respeito” diz um senhor de costas que não quis
se pronunciar.
Avenida São Rafael pontos lotados e pedestres nas ruas |
Também
é comum em algumas regiões da cidade os pontos de ônibus estreitos que, com a aglomeração de gente impossibilita quem
apenas está de passagem. Caso como esse acontece na Av São Rafael em frente o Supermercado Bom Preço. Dona Jucinei que é acostumada a pegar ônibus todos os
dias nesse ponto no relata: “já teve uma vez que a moto jogou a menina
longe,bem aqui na nossa frente enquanto ela tentava passagem indo pela rua, já
que por aqui era impossível. O ponto é muito apertado.”conclui
A
questão é que o acesso construído para os carros, eles mais uma vez, coloca,
claro, em último lugar ou lugar algum a opção de deslocamento do pedestre e do
ciclista. Minto, ambos podem sim seguir em frente se optarem em caminhar pela
pista e, nesse caso, teriam que pular as “pedras” que foram criadas para
impedir justamente que ele tenha a mobilidade de viver e amar a cidade que
habita. Antes é preciso que as autoridades cuidem e criem uma cidade com
mobilidade para todos.
Por Antônio Athanazzio
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